Apr 20, 2010

Sobre o segunda e crueldade

... após um almoço de aniversário da minha mãe em Joinville no sábado, um final de tarde e balada em Balneário Camboriu, um domingo de sol na praia com amigos, eis que chegou a segunda. Como não precisaria trabalhar, fiquei em Balneário Camboriú sozinho, esperando final do dia pois iria jantar com um amigo de São Paulo em Itajaí (me lembrei da música disneylandia, do titãs, só que na versão tupiniquim). Enfim, iria passar todo o dia de segunda sozinho. Acordei cedo, fui para a praia Brava, tomei um banho de mar e na volta decidi almoçar no Shopping, pois acho o lugar perfeito para almoçar quando se está sozinho. Não preciso dar explicação (por expressão corporal) para ninguém que senta ao meu redor do porquê estou sozinho, algo que em um restaurante a beira-mar é mais difícil.

Cheguei ao shopping às 10:55 am porém descobri que o mesmo só abriria às 11am. E nestes cinco minutos fiquei ali parado, observando as pessoas que chegavam ao local. E dois casos me chamaram a atenção. Em um deles, uma mulher estacionou o carro na vaga de deficiente (o estacionamento estava vazio) e minha mente já se pôs a criticar, ainda mais que ela saiu do carro toda saltitante. Mas eu estava errado, já que ela andou em direção ao porta mala e retirou uma cadeira de rodas para o passageiro.

Após, percebo uma mulher, supostamente uma mãe, saindo de um táxi com dois adolescentes. Eles estavam na entrada do estacionamento, a uns 100 metros de onde estava. E mesmo após terem pago o táxi, permaneceram lá. Não vieram perto de onde eu e todos os outros estavam. Neste momento olhei para a mulher da cadeira de rodas, e estranhamente ela também não estava perto da gente com o passageiro cadeirante. Ficou com a cadeira de rodas perto da janela do passageiro, conversando com o mesmo...

Eis que o hino nacional começa a tocar e eu achei meio brega, mas não vem ao caso. As portas do consumismo se abrem, e todos vão para seu ritual capitalista. É engraçado, parece uma corrida, uma gincana. Os únicos aparentemente calmos são os seguranças... E por não estar cheio, pude observar um pouco o destino de cada um, o que não vem ao caso também...

Após ouvir o hino, almocei e fui andar um pouco pelo shopping para fazer a digestão. Na minha caminhada passei perto da mulher com seus dois filhos adolescentes e percebi que ambos tinham uma deficiência muito grave no rosto pois estavam desfigurados. Segundos depois, esbarrei na mulher da cadeira de rodas e uma garota estava sentada nela, com uma deficiência mental explícita que chega a chocar quem olha.

Achei meio estranho encontrar tão rápido estas pessoas e deixando o pensamento fluir me bateu uma tristeza, um sentimento de crueldade por parte de nós mesmos, humanos. Talvez estas pessoas que possuem familiares com deficiência gostariam de levá-los ao shopping, mas preferem fazer isso no horário menos movimentado da semana, ou seja, segunda pela manhã. Logo após o hino nacional. Talvez para evitar olhares como o meu, de estranhamento, de julgamento, de disfarce, de "não me afeta"...

E quando imaginei novamente a mãe saindo do táxi com seus dois filhos e a decisão de esperar o shopping abrir lááá na entrada do estacionamento, longe do aglomero da porta automática do shopping, fiquei entristecido...

Quando imaginei novamente a mãe saindo do carro e esperando o shopping abrir para finalmente colocar a garota na cadeira de rodas, fiquei entristecido...

E nessas horas me pergunto.. é possível atingir o ideal de diversidade? O que pensei, o que senti, o que julguei, pode ser chamado de crueldade?

Apr 13, 2010

O que define um sonho bom?

Engraçado como existem alguns sonhos que realmente marcam. A grande maioria dos meus sonhos não lembro. No máximo lembro de uma sensação que o mesmo traz, uma vaga lembrança, como se uma névoa deixasse tudo difícil de ver apesar de saber de ter algo lá no final. Mas para alguns deles, fica tudo muito claro, muito visível, muito nítido. Foi o que aconteceu estes dias. Parece que sonhei com todos os meus medos assim, juntos. E interessante foi perceber que estava vivenciando todos eles. Lembro de ter descido numa ilha, tipo LOST, e quando cheguei na areia o sonho realmente iniciou(o sonho começou e eu estava dentro da água, com a água batendo no meu joelho). Primeiro veio um ser com uma cabeça gigante de ET passando rapidamente pelo meu lado. Depois olhei para o lado e dois vultos me olharam e ambos possuiam os olhos brilhantes. Era a única coisa brilhante nos dois. Mais a frente, bem no fundo do plano, encontrei uns seres que não reconheci pois não tive tempo. Não tive tempo pois um ser voador me pegou e me jogou muito longe e depois disso não lembro mais de nada. Mas este plano seqüência está muito bem definido na minha cabeça. Cores, movimentações, marcações, expressões faciais, sensações, tudo está bem guardado no consciente. E não estava com medo, talvez receoso, mas não com medo.

Acordei estranho, e todas as vezes que acordo estranho, penso que algo novo veio. E por algo novo, talvez seja aquilo que buscamos, ou estamos mais perto daquilo de queremos. E hoje digo que quero a realidade, a vida como ela é... e concluindo isso, acordei pensando que estava vivendo algo da realidade que ainda não vivi, por isso o estranhamento. E neste momento pensei que esta nova realidade parece mais ilusória do que a realidade da ilusão construída em algum momento de minha vida. É como se, ao destruir uma determinada ilusão, tudo se torna estranho, ilusório.. mas na verdade é a realidade que nos transmite este sensação estranha...

É estranho... e real... por mais ilusório que pareça